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LINGUAJAR CUIABANO
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Como muitos núcleos urbanos do século XVIII, que tem sua existência ligada ao movimento bandeirante. Homens que vieram de São Paulo em busca de prear índios e encontrar ouro, fixando-se nos locais de descoberta de ouro.
Em Cuiabá os bandeirantes Pascoais Moreira Cabral e Miguel Sutil fundaram o Arraial de Cuiabá em 1719, sendo este elevado a categoria de Vila Real do senhor Boa Jesus de Cuiabá em 1927, e a de cidade em 1818. Em 1825 passou a Capital da província, função antes de Vila Bela da SS. Trindade.
Com o passar dos anos o ouro entrou em declínio em Cuiabá passou por um período de estagnação , com a divisão do estado em 10 de outubro em 1978, o processo de colonização do governo federal contribuiu para um novo momento no desenvolvimento de Cuiabá.
Com a inclusão de uma população diversificada ocorreram mudanças nos aspectos culturais, sociais e linguísticos.
Dentro do aspecto linguístico, o falar cuiabano o que mais identifica este falar é o uso das africadas em vez das fricativas .
Title
LINGUAJAR CUIABANO
Título
LINGUAJAR CUIABANO
Resumo descritivo
Com a inclusão de uma população diversificada ocorreram mudanças nos aspectos culturais, sociais e linguísticos. Dentro do aspecto linguístico, o falar cuiabano o que mais identifica este falar é o uso das africadas em vez das fricativas . Segundo Silva (1998, p. 107 in: ARRUDA) essa pronúncia é usada ainda , pelos caipiras de São Paulo e foi transplantada para o nosso estado pelos bandeirantes que conservavam ainda os modos de pronúncia arcaicos dos primitivos colonos portugueses . Desse modo, se os colonos portugueses pronunciavam, por exemplo, Tchuva, catchorro, poderiam pronunciar também dgente, djeito. E ainda conforme Serafim da Silva Neto, a observação que faz é que, se referindo aos paulistas, diz que os substituiu por ts o ch português , dizendo ,por exemplo, Matso por macho e atso por acho, etc. (SILVA NETO, s/d: 34). Seguindo os caminhos percorridos pelos pesquisadores temos ainda em evidencia a importância da gramática cuiabana que também merece ser estudada, assim colocada devido ás características fonéticas, assim como a morfologia e a sintaxe. Durante os últimos anos o falar cuiabano vem sofrendo modificações que o alteraram devido o fluxo migratório ocorrido na década de 30 do século passado, os falares se encontram durante o processo de ocupação mudando o jeito de falar e de se comunicar entre os habitantes. Segundo LIMA ( 2003. P. 662-670) no seu artigo “ Comportamento Linguístico do Falar Cuiabano” apresentado no 5º Encontro do Celsul em Curitiba , apresentou três diferenças fundamentais encontradas quando estudamos uma língua : 1. Diferença de espaço geográfico ou diferenças diatópicas ( responsáveis pelos regionalismos); 2. Diferenças entre os distintos estratos socioculturais de uma mesma comunidade idiomática, ou diferenças diastráticas (diferenças que ocorrem dentro de uma mesma comunidade ); 3. Diferenças entre os tipos de modalidades expressivos, de estilos distintos, ou diferenças diafásicas . A essas diferenças existem três subsistemas que possuem , internamente , relativa homogeneidade de traços linguísticos. São eles 1. As unidades sintópicas, identificadas mais comumente como dialetos, como por exemplo, o dialeto nordestino, o dialeto sulista, o dialeto cuiabano; 2. As unidades sinstrásticas que estão diretamente relacionadas aos estratos sociais, como linguagem oculta, a linguagem classe média, a linguagem da classe popular etc.; 3. As unidades sinfásicas, ou de estilo de língua: linguagem normal, linguagem familiar, linguagem literária etc. Assim, as diferenças e subsistemas apresentam que dentro de uma mesma região temos dialetos diferentes , estilos que estão ligados as diferenças socioculturais , diferenças regionais e de estilo. Com essas considerações, o que podemos afirmar, é que, como diz Ferreira e Cardoso (1994:12) Os falantes de uma mesma língua, mas de regiões distintas, têm características linguísticas diversificadas e se pertencem a uma mesma região também não falam da mesma maneira tendo em vista os diferentes estratos sociais e a circunstância diversa da comunicação. Outro conceito é o da Isoglossa, que segundo a Wikipédia “é a fronteira geográfica de certas características linguística, por exemplo, a pronuncia de uma vogal , o significado de uma palavra ou o uso de uma característica sintática”. Assim podemos descrever que elas podem traçar os contrastes e as semelhanças linguísticos socioculturais e delimitar diferenças de estilo. Podemos encontrar traços linguísticos de ordem lexical, fônica, morfológica ou sintática. Outro comportamento linguístico do falar cuiabano é a próclise em vez de ênclise. Outro tipo de isoglossa que pode ocorrer numa que pode ocorrer numa dada comunidade é a isoglossa fônica e léxica. Um exemplo desse fenômeno pode ser a palavra banzativo ( cansativo). Aqui se observa a alternância fônica de p por b surgindo outro signo linguístico. As sociedades sofrem mudanças sociais, políticas e religiosas assim como na área linguística . Com o passar do tempo as mudanças tornam-se mais rápidas devido a evolução do mundo, da proximidade que a globalização que aproximou fronteiras, a internet deixou tudo mais célere e fácil. A migração de outras regiões trouxe mudanças no campo linguístico no mundo todo. Em Cuiabá esses contatos entre pessoas de outras regiões provocaram alterações no falar, os migrantes trazem um falar próprio de sua região de origem e passam a assimilar o da região nova provocando mudanças no seu falar. Como já falamos uma das marcas do falar cuiabano é o uso da variação entre as consoantes africadas e as fricativas. Essa utilização constitui nas pessoas de fora como um “Som esquisito”, sendo muitas vezes tratada com censura, preconceito e repúdio. Do ponto de vista do fonético José Leonildo Lima observou as seguintes ocorrências: I-VOGAIS a)-Tônicas /a/ -desnalisalização em final Irmã-irmá Caiamã-caimá - seguido de nasal, não se nasaliza e se abre. Lancha-láncha Cano- Cáno /e/ -final fechada tônica se abre Banguê-banguê b) Átonas 1- Ocorre frequentemente a aférese do a Igareté-garité Amanhecer-manhecer Alambrado-lambrado 2- protônico seguido e r passa a i , caindo o r Senhor-sinhô Pedir-pidi II – Ditongos 1-/oi/ -final se transforma em /iu/ Rio-riu Fio-fiu 2- /eu/ -oral aberto em final se fecha Torixoréu- Torixorêu Chapéu-chapéu 3-/ou/ -final se reduz a /ô/ Chegou-chegô Falou-falô 4-/ãe/ -final desnasaliza-se Mamãe mamai 5-/ei/,/ai/,/oi/ -seguidos de sibilante se reduzem Seis –sês Mais-mas Jamais-jamás Demais-demás Depois-depôs 6-/ei/ -em posição interna , antes de palatal ou R , passa a /ê/ Beijo-bejo Luzeiro- luzero 7-/ão/ -final passa a /on/ Visão –vison Bonitão – boniton III- consoantes 1-/r/ -final cai Parar- Pará Rebuçar-rebuçá 2-/j/ -passa a/dj/ Caju-cadju Jipe-djipe Joli-djoli João-djão 3-/x/, /ch/ - passam a /tch/ Peixe-petche Chuva-tchuva Encher –entcher Outras marcas do falar cuiabano são quanto a morfologia e a sintaxe.Temos aspectos levantados pelos autores quanto o substantivo , costuma ocorrer de gênero ( pronome ou artigo junto ao nome) Apresentaremos alguns exemplos explicativos: Ex.: Passou num casa desses. É frequente a ocorrência do alongamento dos seguimentos nasais tônicos . EX.: mora looge daqui. Emprega-se o adjetivo de forma distinto, tanto para o masculino como para o feminino. EX.: Hoje tô demais de contente.A paçoca tá fino. O superlativo se forma com o emprego da expressão demais de,antes do adjetivo. EX.: Tá demais de bom. Tá demais de interessado. Os pronomes pessoais da terceira pessoa são empregados indistintamente no gênero masculino, tanto para seres masculinos como femininos. EX.:Ele chama Margarida . Ele chama Marcos. Com os pronomes demonstrativos ocorre também o emprego indistinto do gênero masculino. EX.: A situação é esse mesmo. Com referência aos pronomes indefinidos, são comuns três expressões que substituem os pronomes indefinidos muito (s), muitas(s) : que só , que tava , que era. EX.: Tinha gente que só. Mato que era. Nunca vi tanto. Com os verbos ser ir ao pretérito perfeito do indicativo, a primeira pessoa no singular é sempre empregada como terceira. EX.: Eu fui professor a vida inteira. Eu foi pro baile. Quanto ao verbo estar no pretérito perfeito do indicativo, a primeira pessoa do singular é sempre empregada como terceira. EX.: Eu pôs os cadernos em cima da mesa . É comum o emprego de duas negativas numa mesma oração , relacionadas ao mesmo verbo. EX.: Eu nem num sei quanto custa. Ninguém nem nunca viu o ladrão. O advérbio demais é sempre substituído pela expressão esse mundo, equivalente a intensidade. Esta expressão normalmente é pronunciada com um alongamento exagerado. EX.: Lá é longe esse mundo. (Lá é longe demais!). Outra ocorrência muito frequente no falar cuiabano é a mudança do pronome indefinido para substantivo. EX.:Tenho um carro. Só este um. Este um é meu . O advérbio demais se transforma , normalmente , em acompanhado da preposição de. EX.:Era demais de gente que tinha na festa . Outros casos registrados no falar cuiabano estão relacionados ás regências verbais e nominais. Continuando com os exemplos: No caso do verbo chegar, este é empregado com a preposição de em vez de a. EX.:A moça chegou de fazer promessa . Com o verbo telefonar encontramos este no lugar de telefonar para, com o mesmo significado deste último. EX.: Fui em Poconé telefonar em cada de mamãe. O verbo fornecer é empregado com a preposição de, regendo o termo que seria objeto direto. EX.: Seu Marcos o fornecia de bebidas. ( Em vez de: Seu Marcos fornecia –lhe bebidas . Um outro verbo com uma regência própria para o cuiabano é o verbo lutar. Na acepção de trabalhar com, lidar com,é empregado com a preposição contra ou com. EX.: Nós lutamos contra as cabras. Sempre lutei com gado Além dessas construções, há um universo lexicográfico muito vasto para ser investigado. Vejamos alguns exemplos : Adobo-pé grande Anduva- Mentira Aparelho-telefone Atibado- cheio Banzativo- pensativo Beiradear- caminhar á beira Bicho de chão – cobra bombo- gordo Cafuçu – feio cascudo- tatu Companheira-placenta De chapa e cruz- Autêntico, legítimo Lançação- vômito Malotar- comer Maricho-homem Papo- de – peru- balão de soprar Parentes-pais Quilim- segredo Rebuçar- tapar, cobrir , agasalhar , endurecer Roni Von- Zona boêmia Sem vista- cego Sengraceira-chateação Violento-depressa Ainda segundo Lima este estranhamento do falar cuiabano por partes dos imigrantes, causa há tempos certas resistência por parte dos cuiabanos em não aceitar a forma africada . A partir da pesquisa de Palma (1984, p.59) “ uma grande maioria opinou no sentido de não aceitação das formas africadas, o que comprova serem elas estigmatizadas . E ainda segundo os entrevistados pelo autor, muitos assim se manifestam, deixando claro o processo de estigmatizarão:Ah!Isso é fala de beira de rio . professores dizem : - não fale assim , é feio .ah! Agora a fala está ficando mais bonita: quando pessoa a fala até parece que não é daqui. (PALMA, p.58). Ainda seguindo os passos da pesquisa de Palma, os cuiabanos com o segundo grau e nível universitário, quando em momentos de descontração , tendem a falar as formas estigmatizadas quando em outros momentos volta á forma “de prestigio”. Segundo CALVET, “quaisquer que sejam as formas estigmatizadas , rejeitadas , classificadas como ilegítimas ( em nome de critérios de prestígio , de classes sociais , de anormalidade congênita etc.), elas o são por referência a uma forma tida como legítima”. (2002,p.77) Temos diversos estudiosos trabalhando em cima da importância do Falar Cuiabano , buscando suas diferenças e referencias morfológicas , léxicas , fonéticas e de sintaxe , as mudanças ocorridas nos últimos trinta anos , com a chegada dos migrantes das outras regiões do Brasil, alterou a linguística de nossa capital, porém não a tornou menos influenciável quando tratamos de estudar de forma acadêmica os nossos modos de comunicação.
Observação
Referencias CALVET, Lous-Jean. Sociolinguística: uma introdução crítica. São Paulo: Párabola, 2002 FERREIRA, Carlota e Cardoso, Suzana. A dialetologia no Brasil. São Paulo: Contexto, 1994 LIMA José Leonildo (UNEMAT) Anais do 5º Encontro do Celsul, Curitiba-PR, COMPORTAMENTO LINGUÍSTICO DO FALAR CUIABANO. 2003(p.662 A 670) PALMA, Maria Luíza Canavarros. Variação fonológica na fala de Mato Grosso: um estudo sociolinguístico. Cuiabá:Imprensa Universitária ,1984 SILVA NETO, Serafim . Capítulos de história da língua portuguesa no Brasil. Brasil/ Portugal : Edições dois mundos , s/d. SILVA, Thais Cristófaro . Fonética e fonologia do português. São Paulo: Contexto, 1999.
Município
Cuiabá-MT
Portaria
017/2013
Publicação em diário oficial
21/04/2013